Sobre o site

Este site surgiu a partir de um projeto de livro que começou em 2013, o qual por sua vez nunca teve maior pretensão que o partilhar receitas simples entre amigos e, mais ainda, o registrar nossas receitas de todo dia para quando a cria deixasse o ninho. Desde então “o livro” existe e só fez crescer. Hoje ele se apresenta como um verdadeiro compêndio de receitas, dicas e informações sobre o dia-a-dia de uma família vegana em busca de diminuir a pegada ecológica e aumentar a sustentabilidade.

Meu objetivo sempre foi o de publicá-lo em um único volume, a um preço acessível, permitindo assim a ampla difusão do trabalho. Mas com o tempo ele foi crescendo, teia de Penélope nunca desmanchada, o registro foi se estendendo a diversas áreas da vida, e a completude do trabalho ainda parece distante. Por isso, veio a ideia de começar a divulgar as receitas, ainda que por partes, e com isso surgiram as páginas do Facebook e Instagram, este site, e pequenos volumes de receitas que serão disponibilizados em formato digital e físico. Todo retorno é benvindo, e sigo esperando que este trabalho se torne útil e acessível a muitos.

 

Adotar o veganismo, no mundo moderno, é enfrentar vários mitos – como já o era o ser vegetariano, há mais de 30 anos, quando primeiro entrei nesta seara. O de que a comida vegana não tem gosto. O de que não se pode comer bem sem imitar a alimentação tradicional. O de que a alimentação vegana é cara e elitista. O de que se vai, inevitavelmente, sofrer de anemia. Todos falsos. Sou vegetariana há décadas, nunca abri mão do prazer de comer. Há mais de 20 anos coloquei neste mundo outra pessoinha, que nunca comeu carne, nasceu alérgica a laticínios e continuou recusando-os mesmo depois que a alergia abrandou, o que me fez caminhar para o veganismo muito antes de ouvir essa palavra pela primeira vez. Nem ela, e nem eu, que depois de um longo vegetarianismo amamentei por 4 anos, já vegetariana estrita, nunca tivemos carência alimentar.

Acredito que o segredo para isso seja a diversidade alimentar, o “comer colorido”. Pratos “coloridos” contém elementos de diversos grupos alimentares (cereais, leguminosas, frutas, legumes, raízes e tubérculos) e resultam em um equilíbro da famosa pirâmide alimentar necessária a uma boa saúde. Não que tenhamos que ingerir alimentos de todas as cores e de todos os grupos sempre e necessariamente a cada refeição, mas sem dúvida no médio prazo (ao longo dos dias e da semana). As plantas têm, sim, todas as proteínas e nutrientes de que necessitamos – desde que, ao longo dos dias, procuremos ingerir uma boa variedade delas. E essa diversidade não é cara, e está longe de ser elitista. Tirar a carne do prato não significa ter que substitui-la por similares ultraprocessados, nem por soja, mas sim em aprender uma nova forma de se alimentar – ou, melhor dizendo, em reaprender formas mais naturais e saudáveis de se alimentar, confiando na riqueza de nutrientes das plantas. O que não significa, é claro, que você não possa continuar gostando e comendo doces, frituras e outros “vilões” da alimentação saudável. O objetivo não é comer só folhas, é ter equilíbrio!

Veganismo não é uma dieta de restrição, mas um mundo de possibilidades e abundância. Quando olhado por um outro prisma, a adoção de um modo de vida vegano abre inúmeras possibilidades, inclusive alimentares, e permite ir além dos grilhões da mesmice e dos hábitos consolidados. Veganismo não implica em ter uma lista de alimentos “proibidos”, mas sim em pensar que animais não são alimento. E que não existem “não podes” – a pessoa pode, sim, comer o que quiser, desde que no limite de sua ética. Mas lembrando sempre que veganismo não é só uma dieta. A pessoa que não consome nenhum produto de origem animal em sua alimentação tem uma dieta “vegetariana estrita” (Sociedade Vegetariana Brasileira). Ser vegano, por sua vez, implica não apenas em ser vegetariano estrito, mas também em adotar um modo de vida que busque excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais na alimentação, no vestuário, na cosmética, na limpeza da casa e em todas as esferas de consumo (The Vegan Society).

Lembrando ainda que o comer bem depende também de bem escolher os ingredientes. Preferir produtos agroecológicos ou orgânicos, sempre que possível. Evitar os ultraprocessados, enlatados e conservas industriais. Evitar produtos importados, que foram produzidos a grandes distâncias – estes, além de terem um custo ambiental muito alto, por causa do transporte, nunca são colhidos maduros o suficiente para desenvolver o máximo de seu sabor e potencial nutricional. Aprender a respeitar as estações e comer produtos de época. Resgatar a importância das plantas e culturas nativas, que foram tão desvalorizadas com a colonização. Descobrir os alimentos e plantas não convencionais (PANCs)... E entender que não existe fórmula pronta, mas um mundo de aprendizados.

Eu adoro, amo cozinhar. Mas sou uma mulher do meu tempo, que trabalha – e muito! Não tenho muito tempo para a cozinha. Por isso não costumo usar receitas muito elaboradas, e por isso (quase) nunca faço pratos mais complicados. Naturalmente, nem todas as receitas são criações originais minhas, mas todas apresentam a minha versão personalizada do prato, com ingredientes e proporções testados e adaptados ao nosso dia-a-dia.

E sim, eu sou Cientista. Mas este não é um espaço de Ciências – pelo menos não do que se esperaria disso à primeira vista. Meu objetivo não é quantificar a química dos nutrientes nem argumentar pelos aspectos técnicos do veganismo. O que pretendo apresentar a seguir é apenas o nosso repertório de alimentação cotidiana – além de alguns itens que vão além da alimentação. Mais do que um mero livro de receitas, é o registro de um modo de vida. Esperando que ele possa inspirar outras pessoas a descobrir o veganismo, e perceber que existem meios de vivenciá-lo de forma simples, saudável e extremamente prazerosa.