É claro que ninguém precisa de receita para fazer café com leite. Os dois ingredientes se combinam perfeitamente e as proporções ideais são ao gosto de cada um. Há quem prefira com mais leite, ou apenas com uma nuvenzinha. Há quem prefira adoçado, ou cowboy. Por outro lado, vejo muitos veganos se perguntando qual o melhor leite para tomar com café. Realmente, existem inúmeras opções de leite, e cada um tem suas peculiaridades. E se é verdade, aqui também, que o “melhor leite” obviamente vai depender das preferências de cada um, também é verdade que alguns leites combinam melhor com café do que outros.

Para começar, pensemos no que é o “gosto de leite”. O gosto do leite de vaca, assim como o gosto do leite humano, varia de acordo com a alimentação de cada uma dessas mães. Entre os humanos, o sabor do leite varia dia a dia, e mesmo ao longo do dia. Entre as ruminantes, ele pode variar se a mãe está comendo capim (e qual capim), flores de primavera (sim, há vacas que ocasionalmente se alimentam de flores, que transferem um sabor especial ao leite), ou ração (o que é horrível). Por outro lado, na verdade, a alimentação da mãe-vaca pouco ou nada influencia no sabor daquele líquido branco altamente pasteurizado, desnatado e homogeneizado que se vende em caixinhas no supermercado e se chama de “leite”. Ou seja, além de ser cheio de sofrimento, “leite” é um produto que pouca relação guarda com a substância original. Mas voltemos ao “gosto de leite”. Independente de possíveis variações na alimentação materna, o leite tem, sim, um sabor característico, que decorre das principais substâncias que o compõem – que são os açúcares, proteínas e gorduras. Dentre elas, a lactose é quem lhe confere o sabor levemente adocicado, enquanto as gorduras são as principais responsáveis por tornar o leite saboroso ao paladar.

Sabendo isso, fica mais fácil entender a química por trás do café com leite e assim escolher o melhor leite vegetal. Todas as sementes contém, assim como o leite animal, açúcares, proteínas e gorduras; no entanto, suas proporções variam bastante. Leites de cereais (arroz, aveia, centeio, trigo, milho, alpiste, quinoa etc.) têm uma alta proporção de amido (que é um açúcar complexo) e pouca gordura – eles lembram mais um leite totalmente desnatado, ou, para algumas pessoas, nem têm sabor de leite “de verdade”. Os leites de oleaginosas (amêndoas, amendoim, castanha de caju, castanha do pará, coco, gergelim, girassol etc.) têm alta proporção de gordura, portanto se aproximam mais da composição dos leites animais e, consequentemente, são em princípio mais agradáveis para beber com café (ou puros).

Mas há um outro fator a ser levado em consideração: as sementes (ou tubérculos) usados para fazer leite não têm sabor inteiramente neutro, e algumas vezes imprimem um gosto específico ao leite produzido, que pode incomodar (ou não) quando tomados com café. E mais uma vez, entramos aqui inteiramente no domínio da preferência pessoal. Eu, por exemplo, acho que os leites de amendoim, gergelim, chia, coco, inhame ou cará, por seu sabor ou sua textura, não combinam muito com café (mas meu filho adora café com leite de amendoim!). Minha preferência pessoal se inclina para leites mais neutros, mas ao mesmo tempo encorpados, como girassol, castanha de caju, amêndoas ou coco desnatado; por outro lado, adoro usar leite de aveia, que embora seja um cereal, no meu paladar fica perfeito com café.

Mas gosto é individual, e cada um tem o seu. Teste diferentes leites, experimente fazer mais ou menos concentrados, e descubra suas preferências. Você vai acabar descobrindo o seu café com leite preferido, a mistura que mais lhe agrada, e quem sabe ficará feliz em resgatar o velho hábito do café com leite – ou em criar um novo hábito. Eu recomendo!