Tabule Aymara

INGREDIENTES

  • 200 g de quinoa
  • 1 espiga de milho já cozida (c. 100 g de grãos)
  • 1 pepino japonês
  • 1 pimentão vermelho
  • 1 cebola roxa
  • 2 tomates
  • 1 batata yacon ou 2 maçãs
  • 2 cenouras
  • 1 nabo branco redondo
  • 1 rabanete grande
  • ½ maço de hortelã
  • 1 c.cf. de sal marinho
  • vinagrete a gosto

MODO DE FAZER

  1. Cozinhar a quinoa no dobro de volume de água com uma pitada de sal, a fogo baixo
  2. Reservar; esperar esfriar
  3. Cozinhar a espiga de milho
  4. Deixar esfriar e separar os grãos (se preferir, pode usar milho em conserva, mas eu sempre valorizo os produtos frescos); reservar
  5. Cortar pepino, pimentão, cebola, tomates e yacon ou maçãs em cubinhos
  6. Ralar a cenoura, o nabo e o rabanete em ralo fino
  7. Picar a hortelã bem fininho
  8. Em uma saladeira, misturar todos os ingredientes
  9. Temperar com vinagrete e sal, a gosto

 

Esta salada, muito versátil, funciona como entrada, acompanhamento ou até prato principal, para um almoço de verão, por exemplo. Deliciosa, completa nutricionalmente e fácil de fazer, é também um excelente alimento para se levar em caminhadas mais longas ou trabalhos de campo. Já me salvou a vida várias vezes!

Para uma versão mais acessível, a quinoa pode ser substituída por arroz.

Eu conheci a quinoa muitos anos antes dela começar a ser comercializada no Brasil, infelizmente não nos Andes, como seria natural, mas por incrível que pareça, na França, onde ela é muito comum e, já naquela época, facilmente encontrada e relativamente barata. Foi lá que desenvolvi essa receita, que acabou se tornando uma de minhas saladas preferidas. Eu a nomeei “tabule Aymara” em homenagem ao povo possivelmente relacionado à domesticação da quinoa, mas ela contém também outros ingredientes nativos dos Andes e da América do Sul, como tomate, pimentão, milho e, se você tiver acesso, yacon.

A quinoa, embora frequentemente associada no imaginário popular ao império Inca, foi domesticada na região do Lago Titicaca há cerca de 8000 anos atrás. Essa é a região originária dos Aymaras, que se distribuiam no entorno do Titicaca e para o sul (atual território de Peru, Bolivia e Chile). Sua origem é controversa, mas estudos genéticos indicam que eles podem ser descendentes de povos amazônicos que se instalaram no Altiplano após 12 mil anos antes do presente. O Império Inca, por sua vez, que teve seu centro geo-político em Cuzco (Peru), foi estabelecido por grupos falantes de quéchua e durou entre o ano 1438 até 1572, quando foram derrotados pelos espanhóis. Durante esse período, eles conquistaram ou assimilaram inúmeros povos nativos, inclusive os Aymara, e chegaram a dominar quase toda a parte oeste da América do Sul, especialmente a Cordilheira dos Andes, incluindo grande parte do território atual do Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, até o sul da Colômbia. Atualmente, a maior parte das populações nativas que vivem no Altiplano pertencem a grupos étnicos falantes das línguas quéchua e aymara.

Uma lenda sobre o mito da quinoa foi compilada pelo antropólogo aymara Edgar Quispe Chambi. Ela conta que antigamente o povo Aymara podia conversar com as estrelas. E conta a história de um rapaz que cuidava de um campo de batatas perto do lago Titicaca. Todas as noites, alguém arrancava as plantas, e por isso ele, intrigado, resolveu passar a noite vigiando. Várias jovens camponesas apareceram, mas fugiram quando o viram, exceto uma, que caiu e ele pegou. Mas quase ao amanhecer a moça se transformou em pássaro e voou para longe, voltando para onde moravam suas companheiras estrelas. No dia seguinte, o jovem subiu uma montanha e suplicou ao condor que o levasse aonde viviam as estrelas. O condor o levou, e o rapaz passou a viver feliz com a moça-estrela em meio a campos dourados de quinoa, que naquela época não existiam na Terra. Mas um dia ele quis voltar à Terra para ver seus pais, e para isso a moça presenteou-o com sementes de quinoa. Desde então, a quinoa é cultivada e se tornou um dos principais alimentos do povo andino. Para os Aymaras, “quinoa é vida, é esperança, é o passado, o presente e o futuro da humanidade”.