Linhaça como cosmético: gel, farinha e seus múltiplos usos

INGREDIENTES

Gel de linhaça – com aproveitamento para leite e farinha

  • 1 parte de sementes de linhaça
  • 3 partes de água filtrada
  • óleo essencial (opcional)

MODO DE FAZER

  1. Cobrir as sementes com a água
  2. Hidratar por 8 a 12 horas
  3. Coar
  4. Se desejar, juntar algumas gotas de óleo essencial ao gel
  5. Usar como hidratante, máscara para os cabelos ou leave-in
  6. Conservar em geladeira em um vidro com tampa hermética
  7. Deixar as sementes em uma peneira para fazer a germinação no ar por 24 a 48 horas (lavando a cada 12 horas)
  8. Descartar a água do molho; enxaguar com água fresca
  9. Bater as sementes com a água no liquidificador até triturar completamente
  10. Coar em uma peneira fina ou espremer em um coador de pano
  11. Servir/usar o leite imediatamente ou conservar em geladeira em uma garrafa de boca larga
  12. Transferir a okara (os resíduos) para uma assadeira grande; espalhar bem formando uma camada fina
  13. Levar ao forno baixíssimo até secar; revolver regularmente
  14. Conservar ao abrigo da luz e da umidade; utilizar como alimento ou esfoliante

🌱 As receitas para se fazer o leite e a farinha (okara) já foram publicadas em outras abas com mais informações.

 

Gel de linhaça – método rápido

INGREDIENTES:

  • 1 parte de sementes de linhaça
  • 2 partes de água filtrada
  • óleo essencial (opcional)

MODO DE FAZER:

  1. Cobrir as sementes com a água
  2. Aguardar 20-30 minutos
  3. Coar
  4. Se desejar, juntar algumas gotas de óleo essencial ao gel
  5. Usar como hidratante, máscara para os cabelos ou leave-in
  6. Conservar em geladeira em um vidro com tampa hermética
  7. Se desejar, aproveitar as sementes em outra preparação

 

Esfoliante de farinha de linhaça

Embora o uso mais conhecido da farinha seja na alimentação (ela pode ser adicionada a vitaminas, mingaus, panquecas, pães, bolos, biscoitos e outros) ela também é um excelente esfoliante natural. Por suas propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana e antioxidante, a esfoliação com linhaça não só renova a vitalidade a pele, removendo células mortas e impurezas, como ajuda no tratamento e prevenção de espinhas, cravos e pelos encravados.

Para utilizá-la, basta misturar a farinha com um óleo vegetal (de coco, oliva, amêndoas doces ou outro), com uma pasta feita com abacate amassado (que é um excelente hidratante, antioxidante e tem várias propriedades benéficas para a pele e cabelos) ou com um pouco de sabonete cremoso de aveia, feno-freno ou mandioca. A quantidade depende do seu tipo de pele, da região a ser aplicada e do tipo de esfoliação que você quer fazer. Para uma esfoliação mais intensa, usar 3 partes (p.ex., 3 colheres de sopa) de farinha de linhaça para 1 parte de veículo (óleo, abacate ou sabonete); para um efeito mais suave, fazer o contrário, 1 parte de farinha de linhaça para 3 partes de veículo; ou usar qualquer proporção entre esses dois extremos.

Em seguida, espalhar a mistura no rosto ou no corpo com os dedos, massageando levemente em movimentos circulares. Deixe agir por alguns minutos, lave normalmente e siga com sua rotina habitual de hidratação ou cuidados com a pele.

 

 

A linhaça é frequentemente considerada um “superalimento”, e embora eu não acredite nesse conceito, tenho que reconhecer que na verdade ela é até muito mais do que isso. Seu nome científico, Linum usitatissimum (que significa “utilíssimo”), já dá uma ideia de que essa planta tenha mil utilidades. E tem mesmo!! Além da semente ser super nutritiva, ela tem várias propriedades terapêuticas, que levam diversos pesquisadores a classificá-la como “um alimento medicinal”. Dela se pode aproveitar também o gel, que é uma verdadeira panaceia para a pele e os cabelos. E a planta ainda produz fibras de altíssima qualidade que servem para fazer o linho, tecido hoje considerado nobre mas usado desde tempos imemoriais, além de cordas, tecidos mais rústicos e até papel. Além do óleo culinário, obtido através de pressão a frio, a linhaça também serve para produzir um óleo secante usado em pinturas e vernizes, extraído por pressão a quente.

Existem hoje diversas variedades de linhaça cultivadas, algumas sendo mais apropriadas para produzir óleo e sementes (que podem ser marrons ou douradas, e nutricionalmente se equivalem), outras sendo melhores para fibras. A planta pode ser usada inclusive como ornamental, pois suas florezinhas azuis são muito bonitas.

A linhaça é cultivada no Velho Mundo como fonte de alimento e de fibras há milhares de anos, e provavelmente foi a primeira planta utilizada para tecer roupas. Seu ancestral selvagem já era usado muito antes da domesticação, que na verdade ocorreu pelo seu uso como alimento, e não pelas fibras. Os vestígios mais antigos datam de cerca de 30 mil anos antes do presente, em uma caverna da Georgia. Sementes possivelmente domesticadas apareceram no sudoeste da Ásia há cerca de 11.500 anos, e pela mesma época também na Palestina, Israel, Turquia, Síria, Irã, Jordânia e outros – mas só se tem certeza de sua domesticação por volta de 10 mil anos. A partir de então, os achados se multiplicam, e rapidamente seu cultivo se espalhou pela Europa, Ásia e norte da África (Zohary et al., 2012).

Como alimento, a semente de linhaça pode ser consumida in natura (inteira ou processada), como farinha ou como óleo; o gel também pode ser consumido. A semente é riquíssima em proteínas de alta qualidade, vitaminas (C, E, K e do complexo B), minerais (cálcio, magnésio, fósforo, potássio, ferro e zinco) e óleos saudáveis (sendo uma fonte importante de ômega-3). Eu uso principalmente in natura, em pães e bolos, na granola, na vitamina e para fazer leite. Suas propriedades são melhor aproveitadas quando quebrada ou moída, pois as sementes são muito resistentes e caso contrário podem passar inteiras pelo tubo digestivo.

Suas propriedades terapêuticas são conhecidas há muito tempo, sendo um importante ingrediente da medicina popular desde pelo menos a Idade Media. Atualmente elas são reconhecidas pela ciência moderna e atribuídas, principalmente, ao seu alto teor de ômega-3, lignanas (que são polifenóis, antioxidantes e precursores de fitoestrogênios), proteínas, fibras e micronutrientes (especialmente a vitamina E e os minerais). Isoladamente ou em associação, estes compostos são relacionados à prevenção de diversos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, renais, autoimunes e neurodegenerativas, hipertensão, aterosclerose, diabetes, artrite, osteoporose e outras. Eles são eficientes na redução dos sintomas da menopausa, fortalecem o sistema imunológico, diminuem os níveis de triglicérides e de colesterol LDL (o “ruim”), aumentam o HDL (o “colesterol bom”), regulam o açúcar no sangue e a função intestinal e podem ajudar no tratamento de úlceras, enxaquecas, emfisema, glaucoma, lupus e doenças de pele como psoríase, dermatites e eczemas. Além disso, têm propriedades anti-inflamatória, antifúngica, antimicrobiana e antioxidante (Goyal et al., 2014). É muita coisa!

A linhaça também é uma importante aliada no tratamento da pele e dos cabelos, e para isso se pode usar a farinha e o gel de linhaça.

 

Gel de linhaça

O gel é a fração de fibras solúveis da linhaça, formado por polissacarídeos que se tornam viscosos quando em contato com a água. Ele tem propriedades medicinais, especialmente para a regulação do intestino e no controle do colesterol, que podem ser aproveitadas tanto em se ingerindo o gel diretamente ou através do consumo da semente de linhaça. Na cozinha, ele é um importante substituto do ovo, por suas propriedades umectantes e emulsificantes.

Mas além disso tudo ele é um excelente hidratante para a pele a para os cabelos, com propriedades umectante, emoliente e também adstringente. Isso faz com que ele seja apropriado para qualquer tipo de cabelo e de pele, protegendo, umectando e suavizando a pele e os cabelos secos ou desidratados, e ajudando a controlar a oleosidade em cabelos e peles oleosos. Os cabelos ficam mais brilhantes, sedosos e hidratados, e a pele mais saudável, podendo ser eficiente no tratamento de condições as mais diversas, como psoríase, eczema, dermatites e acne.

Existem várias formas de fazer o gel de linhaça. Muitas pessoas usam o aquecimento, outras fazem a preparação a frio. Varia bastante, também, a proporção dos ingredientes – sendo recomendada desde a proporção de 1:5 (1 parte de sementes para 5 partes de água) até 1:1 (partes iguais de linhaça e de água) –, assim como o modo de fazer. Há receitas que indicam hidratar (ou cozinhar) as sementes inteiras, separar o gel e descartar os grãos. Mas há também quem recomende misturar os dois elementos, seja triturando a linhaça antes de hidratar, seja fazendo a trituração depois da hidratação/cozimento; a substância assim obtida não é exatamente um gel, fica mais para um creme esbranquiçado.

A Conceição Trucom (@docelimao) recomenda hidratar as sementes inteiras (na proporção de 1:5), bater no liquidificador, coar no voil e misturar com óleos vegetais e óleos essenciais (para cada 100-200 ml de linhaça juntar 1 c.s. de óleo de babaçu ou coco + 1 c.s. de óleo de abacate + 15 gotas de uma mistura de óleos essenciais de lavanda, sálvia e gerânio ou manjerona). Isso resulta em um excelente creme hidratante para o rosto e para o corpo, com validade de cerca de 15 dias mesmo fora da geladeira. Eu não experimentei essa receita, pois tenho preferido hidratantes não gordurosos, mas confio bastante no trabalho dela e recomendo, para quem tiver interesse, uma consulta ao seu site ou seus livros.

A minha técnica consiste em preparar realmente um gel. Mas não há desperdício nenhum, pois as sementes eu aproveito para outra coisa. Eu prefiro a preparação a frio – na verdade nunca vi muito sentido em aquecer as sementes, e acho que pode até eliminar alguns dos princípios ativos. O gel pode ser extraído das sementes muito rapidamente; o processo já começa em 10-15 minutos, mas eu costumo esperar até 30 minutos para ter um gel mais consistente. No entanto, se você tiver um pouco mais de tempo e paciência, o ideal mesmo é deixar as sementes de molho de um dia para o outro – assim você inicia o processo de germinação, elimina os anti-nutrientes, desperta todo o seu potencial nutritivo, e ainda aproveita o mesmo material para fazer leite, farinha e gel, tudo ao mesmo tempo!

Quanto à forma de usar, é bem simples. Nos cabelos ou na pele, geralmente se recomenda usar o gel de linhaça puro ou em combinação com algum óleo vegetal e/ou com gel de babosa. Além disso, ele pode ser usado (puro) na finalização de cabelos cacheados, como um leave-in, para modelar os cachos e diminuir o frizz.

Eu costumo usar puro. Depois de preparar o gel, eu mantenho em um vidro de boca larga na geladeira, onde ele se conserva bem até 1-2 semanas. Se desejar, adicione algumas gotas de óleo essencial, o que dá um odor agradável e melhora a conservação.

Dali eu uso como hidratante para o corpo e para as mãos, ou como máscara de hidratação para os cabelos. Como hidratante, é só espalhar sobre a pele como um hidratante comum. Ele é agradável de passar e bem absorvido, a pele não fica grudenta, muito pelo contrário – parece uma seda!

Como máscara de hidratação, eu espalho nos cabelos e no couro cabeludo até ficarem bem úmidos, massageando bem. Deixo por 20 minutos a 1 hora e lavo normalmente. O efeito também é muito bom!